sexta-feira, 4 de maio de 2012

Exercícios Físicos & Possíveis Complicações Urológicas

Créditos para a extinta Revista VIVA
Texto do Dr. Rodolfo F. Forster
Como é do conhecimento geral, o exercício físico é de grande valor na profilaxia das doenças coronarianas, respiratórias, vasculares e cerebrais, na redução do peso corporal, no controle do diabete entre outras.
Entretanto, com a difusão do conceito de que “correr faz bem a saúde”, um grande número de pessoas iniciam exercícios físicos sem o conhecimento mínimo das possíveis complicações que poderão advir da falta de moderação nos exercícios.
Dentre essas complicações, estão as do sistema geniturinário, a saber: hematúria (sangue na urina), hemoglobinúria e miohemoglobinúria (urina de cor marron), orquites e epididimites (inflamação dos testículos), torção do testículo em jovens, rotura do testículo e incontinência urinária de stress (perda de urina aos esforços físicos).
Hematuria – O sangue na urina pode aparecer por litiase (pedra) preexistente no rim, bacinete ou ureter que traumatiza o urotélio normal, durante o exercício físico, produzindo sangramento que será eliminado com a urina.
Outra causa da hematúria é chamado traumatismo de bexiga em corredores de longa distância ou hematúria dos 10.000 metros.
Blacklock observou sangue na urina de jovens envolvidos em exercícios físicos pesados nos serviços das forças armadas da Inglaterra.
Em oito de dezoito pacientes sem lesões do sistema urinário superior (rim e ureter) foram identificados contusões de bexiga em cistoscopias após os exercícios. Os pacientes eram invariavelmente corredores de 10.000 metros ou mais metros e hematúria, sem dor, foi uma ocorrência ocasional e verificada na primeira micção após a corrida. Em todos os casos, apesar da hematúria ser profusa e com pequenos coágulos, a urina se tornou clara após 24 horas de repouso, porque a lesão é superficial e regride espontaneamente.
Os exames cistoscópicos demonstraram contusões localizadas na parede da bexiga com perda de urotélio durante as 48 horas após o evento. As lesões eram mais acentuadas na parede supero-posterior da bexiga e desapareceram rapidamente.
Essas lesões parecem ser causadas por repetidos impactos da flácida parede da bexiga contra a base vesical, de estrutura relativamente fixa e muito mais espessa. A força de uma crescente pressão infra-abdominal, pelo exercício físico, força a parece posterior da bexiga contra a base (chamada trigono vesical) provocando o traumatismo.
Quando a hematúria não ocorre, há presumivelmente urina suficiente dentro da bexiga para agir como coxim hidrostático que impede o traumatismo.
Para evitar esta ocorrência seria necessário beber líquidos antes da corrida ou omitir esvasiar a bexiga totalmente neste período, porém, nenhuma destas medidas é facilmente aceita por atletas dedicados.
Hemoglobinúria e ou Mioglobinúria: São pigmentos anormais que aparecem na urina após exercícios físicos dando, cor marrom-escuro ou vermelho-escuro na urina. É causada por hemólise (destruição) intravascular das células vermelhas do sangue durante corridas ou caminhadas de longa distância. Acontece porque na massa muscular esquelética dos atletas há um maior desenvolvimento dos vasos sanguíneos e um aumento considerável dos capilares, chegando, segundo alguns autores, até 5.000 por milímetro quadrado de seção transversal de músculo. Durante o esforço físico, a maioria deste vasos capilares entra em funcionamento, sofrendo dilatação com maior afluxo de sangue, aumentando de 4 a 9 vezes a circulação no músculo.
Nos caminhantes e corredores, o aumento da circulação dos membros inferiores poderá ocasionar uma destruição das hemácias (células vermelhas) por traumatismo do calcanhar com o solo e pelo esforço dos músculos da pantorrilha. A destruição das hemácias sofrerá um processo de reaborção e conseqüente eliminação de hemoglobina pela urina, configurando a hemoglobinúria.
Orquite e Epididimite: É uma inflamação do testículo e epidídimo, podendo ser traumática ou química por refluxo de urina. É muito comum na população jovem e uma das causas de hospitalização nas bases militares após exercícios físicos.
Esta condição é secundária ao refluxo de urina estéril (sem infecção) da bexiga para os vasos deferentes durante os exercícios com bexiga muito cheia. Os exames de urina feitos evidenciam urina estéril e confirmam o diagnóstico.
O paciente tem história de dor no escroto enquanto corria ou caminhava com a bexiga cheia.
Torção do Testículo: É uma emergência incomum e se limita quase que inteiramente a indivíduos entre 8 e 25 anos. Causa estrangulamento da circulação sanguínea do testículo e, a não ser que exista tratamento imediato dentro de 3 a 6 horas, poderá ocorrer atrofia testicular.
O diagnóstico costuma ser sugestivo quando um adolescente, durante o exercício físico, desenvolve intensa dor no testículo, seguido de inchação do órgão, vermelhidão da bolsa escrotal, náuseas e vômitos.
Rotura Testicular: É raro, com menos de 60 casos descritos. É resultante de trauma direto por queda, durante o exercício físico, sendo o testículo levado contra a coxa ou púbis.
O diagnóstico é feito pela dor e equimose da bolsa escrotal. O tratamento é sempre cirúrgico e urgente.
Incontinência Urinária de Stress: É a falta de controle da urina na mulher e consiste na perda de algumas gotas a 30 ml de urina ao contrair a parede abdominal durante os esforços físicos.
Deve ser diferenciada da urgência urinária que é devido a inflamação da bexiga na qual a paciente urina antes de chegar ao banheiro.
A incontinência de Stress aparece mais em mulheres que já tenham filhos, mas pode aparecer também em mulher nulípara que tenha insuficiência do esfíncter urinário.
O tratamento é feito com exercícios para a musculatura do períneo a fim de fortalecer o mecanismo esfincteriano, mas a grande maioria dos casos somente se beneficia com tratamento cirúrgico.
Qualquer sintoma ou sinal geniturinário que se apresentar durante, ou após exercícios físicos intensos ou moderados, deverá ser avaliado e não simplesmente ser atribuído ao esforço e que desaparecerá com o repouso.
O médico especialista deverá, nestes casos, fazer uma propedêutica circunstanciada a fim de ter uma diagnóstico precoce e instituir o tratamento adequado e, por vezes, urgente.
 
Redirecionado de Jorge Ultramaratonista

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